Friday, January 15, 2010

Diários do teatro #2

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Diários do teatro ; Interpretação.

No.02 e No.03


As aulas teóricas com exercícios práticos são as que mais tem a cara do curso. Interpretação. Apesar de às vezes ter uns exercícios enjoados, são os mais válidos. E as teorias são as que realmente englobam o pensamento do que é ser um ator. Sobre últimas aulas não me recordo muito bem em ordem cronológica, mas recordo o conceito geral. Representar alguma coisa ao mesmo tempo em que o professor passa a “senha” é um desafio. Temos que estar atentos e concentrados em ouvir o que ele diz e ao mesmo tempo fingir que não tem ninguém dizendo nada. E depois fazer uma imagem e guardar num baú, ambos elementos imaginários. O resultado é uma imagem completamente fora do teatro e às vezes nada a ver com a pessoa que a gerou (ou ligada de alguma forma com o passado desta). Acredito que isso seja uma evolução. Conseguir interpretar a senha transformando numa imagem. Achei que me daria mal com esse lance de interpretação, porque odeio “teatrismo”, o que eu encarava como pessoas exageradas achando que estavam fazendo algo bacana num palco.

O professor respeita os objetivos particulares de cada pessoa e avalia cada um de acordo com o desenvolvimento e capacidade. Não cria um estereótipo, forçando os alunos a serem aquilo. Isso que achei massa. O aluno tem liberdade de aprender e desenvolver sua própria característica.
Achei que alguns colegas de classe estão se supervalorizando demais. Acho muito cedo pra alguém dizer que é muito criativo ou domina improvisação de palco. Fizemos apenas exercícios em classe, com pessoas que conhecemos. Subir num palco com pessoas desconhecidas, ou talvez até sua própria avó na cadeira da frente... é outra pegada.
Neste curso, não sei de nada, o pouco que sei tento agregar e sempre sou ouvido pelo professor e colegas. É tudo o que posso dizer até agora sobre o que aprendi. Ainda estou aprendendo, e mesmo se eu não for usar isso mais pra frente, participo e tento fazer o melhor para somar ao grupo.

Pensando em como fazer um relatório de uma forma mais focada em sentimento do que meramente uma analise “visual”.
Uma das coisas que percebi é que sentimento é uma coisa cheia de nuanças. Não se deve confiar 100% no estado ao qual é levado pelo sentimento.
Observo o sentimento como sendo uma caixa de madeira pesada e oca por dentro parada por alguma força que a deixa flutuando. Imagino essa caixa flutuando sobre o mar. (A)
Nesse estado a pessoa está num estado normal, sem ser afetado por sentimento algum. Quando a pessoa é afetada por qualquer sentimento, essa caixa cai no mar. (B) Todo o processo da queda é a nuança do sentimento. Quando a caixa toca a superfície da água é o momento onde o corpo recebe influência do sentimento, enquanto o corpo (mar) sofre a alteração, a caixa afunda no mar devido a força da queda. Quando a força da queda vai se encerrado, a caixa para, e começa subir. Até boiar na superfície do mar. (D)

No momento em que a caixa atinge o máximo de profundidade devido à força da queda(C), aquele momento é onde o sentimento está em sua forma mais forte. O corpo ainda está se adaptando ao sentimento (a queda da caixa) enquanto a emoção está com o sentimento na forma mais forte.

Se o sentimento, por exemplo, for raiva, a pessoa que estiver no momento C pode dizer coisas as quais ela não diria. Por exemplo, uma mãe, com bom caráter e educada, recebe a notícia de um médico que ela perdeu um filho, após um momento de confusão e angustia (B), ela grita desesperadamente e ofende o médico (C). Depois sozinha, toma um copo d’água, entende que seu filho estava muito doente e fraco e não teria muito o que fazer. Se sente envergonhada por ofender o médico que sempre esteve lá de prontidão para atender o garoto. Ela se arrepende de ofender o médico. (D)

Essas são as nuanças do sentimento ao qual percebi em detalhe fazendo esse curso. Estar triste, feliz, com raiva ou qualquer coisa é muito vago. O corpo reage, e tem um tempo onde mente e corpo não se entendem.


Observações sobre apresentação em palco.

Como foi bem observado pela professora de movimentação e corpo, faltou realmente preparação antes de subir no palco. Meu foco foi o texto, decorei uma seqüência de acontecimentos, e a partir do momento que esqueci uma linha, a seqüência foi destruída. Não sabia como estava falando, como me portava. Não sentia meu corpo.

Eu era apenas visão. Quando tento recordar o momento lá em cima, lembro-me apenas como se fosse apenas 2 olhos. Mais nada. Aprendi no curso sobre objetivos e objetivos menores, e logicamente foco. A partir do momento que um foco é perdido, o que fazer? Lá em cima me senti completamente perdido, sem estrutura alguma. Igual no exercício de sentar-deitar-engatinhar, sentia que aquilo não estava orgânico, não ficou estético. Em geral, me senti mal em cima do palco após perder o foco. A falta de confiança que minha parceira estava também me desencorajou um pouco. Mas quem errou o texto fui eu. Inclusive roubei falas dela, e ela teve de dizer algumas minhas e fizemos essa troca várias vezes.

Diferentemente do exercício do Caliban, onde eu controlava o personagem que criei, no palco, fui eu mesmo: em apuros. Senti que não trabalhei meu personagem o suficiente para saber como ele agiria. E no final fiquei eu-em-palco, acuado.


No Caliban não tive problemas algum, mesmo com uma colega parando o texto pra dizer que as pessoas não fizeram o combinado – o que acho abominável por sinal, ela poderia ter continuado sem essa pausa – conseguia controlar meu personagem, eu o conhecia. No palco, lidei com um estranho.

E fiquei muito insatisfeito dos professores reunidos, na hora de corrigir o que se foi feito, perdendo muito tempo pra dizer a mesma coisa. Todo mundo ali se esforçou e se dedicou. Figurino, cenário, era visível. Mas tivemos que ouvir tudo isso. As pessoas deram o melhor delas pra ouvir que os professores se surpreenderam, ou seja, eles acharam que não seria bom então? Os professores não confiam nos alunos? E depois de fazer algo assim, a única coisa que ouvimos é que estão surpresos e que nos dedicamos? Por favor né? Inclusive um professor que nunca vi, não sei quem é, não sei o que faz, querendo dar dicas de como agir em um curso, como se dedicar. Eu sei que não sou lá um exemplo de pessoa, e que sou um cara difícil de se lidar. Mas não costumo dar ouvidos pra pessoas desconhecidas, e me torno realmente agressivo quando alguém toma meu tempo pra falar algo ao qual não soma em nada. Achei descartável. Quem é alguém para falar de dedicação ao trabalho, se não sei como ele trabalha? Não distribuo minha confiança de graça. E mesmo sabendo que foi escolhido pelo Senac por possuir seus devidos méritos, e percebendo que é uma pessoa educada não consigo admitir que gaste meu tempo dizendo como devo me dedicar ao curso. Ele não tem esse direito.


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